28 de março de 2016

Módulo - Relações Interpessoais

 



Testemunho - Participantes




As sessões de relações interpessoais constituem o culminar da nossa aprendizagem em curso.

No sentido de se concretizar uma relação de empatia com outra pessoa, temos que previamente recorrer a um processo de auto-conhecimento. Só quando conhecermos os nossos próprios sentimentos, os nossos conflitos internos e juízos de valor, é que poderemos separar a parte emocional da comunicação, de modo a criar uma ligação saudável que potencie o crescimento individual e organizacional.

Nas palavras de Dale Carnegie "Ao lidar com pessoas, lembre-se de que você não está lidando com seres lógicos, e sim com seres emocionais."

Texto escrito - Ricardo


Referências bibliográficas:


FACHADA, M. Odete (2001), Psicologia das Relações Interpessoais -1º e 2º volumes. Lisboa: Ed. Rumo.

CARNEGIE, D. (1936 ), Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas - 52ª Edição











9 de março de 2016

Módulo - Empatia

Como símbolo do módulo Empatia, a colega Tânia sugere o seguinte poema de Fernando Pessoa, com as roupagens de Álvaro de Campos.


"Sentir tudo de todas as maneiras,

Sentir tudo de todas as maneiras,
Viver tudo de todos os lados,
Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo,
Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos
Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo.

Eu quero ser sempre aquilo com quem simpatizo,
Eu torno-me sempre, mais tarde ou mais cedo,
Aquilo com quem simpatizo, seja uma pedra ou uma ânsia,
Seja uma flor ou uma ideia abstracta,
Seja uma multidão ou um modo de compreender Deus.
E eu simpatizo com tudo, vivo de tudo em tudo.
São-me simpáticos os homens superiores porque são superiores,
E são-me simpáticos os homens inferiores porque são superiores também,
Porque ser inferior é diferente de ser superior,
E por isso é uma superioridade a certos momentos de visão.
Simpatizo com alguns homens pelas suas qualidades de carácter,
E simpatizo com outros pela sua falta dessas qualidades,
E com outros ainda simpatizo por simpatizar com eles,
E há momentos absolutamente orgânicos em que esses são todos os homens.
Sim, como sou rei absoluto na minha simpatia,
Basta que ela exista para que tenha razão de ser.
Estreito ao meu peito arfante num abraço comovido
(No mesmo abraço comovido)
O homem que dá a camisa ao pobre que desconhece,
O soldado que morre pela pátria sem saber o que é pátria,
E...
E o matricida, o fratricida, o incestuoso, o violador de crianças,
O ladrão de estradas, o salteador dos mares,
O gatuno de carteiras, o sombra que espera nas vielas —
Todos são a minha amante predilecta pelo menos um momento na vida.
Beijo na boca todas as prostitutas,
Beijo sobre os olhos todos os souteneurs,
A minha passividade jaz aos pés de todos os assassinos,
E a minha capa à espanhola esconde a retirada a todos os ladrões.
Tudo é razão de ser da minha vida.

Cometi todos os crimes,
Vivi dentro de todos os crimes
(Eu próprio fui, não um nem o outro no vício,
Mas o próprio vício-pessoa praticado entre eles,
E dessas são as horas mais arco-de-triunfo da minha vida).

Multipliquei-me para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei, não fiz senão extravasar-me,
Despi-me entreguei-me.
E há em cada canto da minha alma um altar a um deus diferente.

Os braços de todos os atletas apertaram-me subitamente feminino,
E eu só de pensar nisso desmaiei entre músculos supostos.

Foram dados na minha boca os beijos de todos os encontros,
Acenaram no meu coração os lenços de todas as despedidas,
Todos os chamamentos obscenos de gestos e olhares
Batem-me em cheio em todo o corpo com sede nos centros sexuais.
Fui todos os ascetas, todos os postos-de-parte, todos os como que esquecidos,
E todos os pederastas — absolutamente todos (não faltou nenhum).
Rendez-vous a vermelho e negro no fundo-inferno da minha alma!

(Freddie, eu chamava-te Baby, porque tu eras louro, branco e eu amava-te,
Quantas imperatrizes por reinar e princesas destronadas tu foste para mim!
Mary, com quem eu lia Burns em dias tristes como sentir-se viver,
Mary, mal tu sabes quantos casais honestos, quantas famílias felizes,
Viveram em ti os meus olhos e o meu braço cingindo e a minha consciência incerta,
A sua vida pacata, as suas casas suburbanas com jardim, os seus half-holidays inesperados...
Mary, eu sou infeliz...
Freddie, eu sou infeliz...
Oh, vós todos, todos vós, casuais, demorados,
Quantas vezes tereis pensado em pensar em mim, sem que o fizésseis,
Ah, quão pouco eu fui no que sois, quão pouco, quão pouco —
Sim, e o que tenho eu sido, ó meu subjectivo universo,
Ó meu sol, meu luar, minhas estrelas, meu momento,
Ó parte externa de mim perdida em labirintos de Deus!)
Passa tudo, todas as coisas num desfile por mim dentro,
E todas as cidades do mundo rumorejam-se dentro de mim...

Meu coração tribunal, meu coração mercado, meu coração sala da Bolsa, meu coração balcão de Banco,
Meu coração rendez-vous de toda a humanidade,
Meu coração banco de jardim público, hospedaria, estalagem, calabouço número qualquer coisa,
(«Aqui estuvo ei Manolo en visperas de ir al patibulo»)
Meu coração club, sala, plateia, capacho, guichet, portaló,
Ponte, cancela, excursão, marcha, viagem, leilão, feira, arraial,
Meu coração postigo,
Meu coração encomenda,
Meu coração carta, bagagem, satisfação, entrega,
Meu coração a margem, o limite, a súmula, o índice,
Eh-lá, eh-lá, eh-lá, bazar o meu coração.

Todas as madrugadas são a madrugada e a vida.
Todas as auroras raiam no mesmo lugar:
Infinito...
Todas as alegrias de ave vêm da mesma garganta,
Todos os estremecimentos de folhas são da mesma árvore,
E todos os que se levantam cedo para ir trabalhar
Vão da mesma casa para a mesma fábrica por o mesmo caminho...

Rola, bola grande, formigueiro de consciências, terra,
Rola, auroreada, entardecida, a prumo sobre sóis, nocturna,
Rola no espaço abstracto, na noite mal iluminada realmente
Rola e (...)

Sinto na minha cabeça a velocidade do giro da terra,
E todos os países e todas as pessoas giram dentro de mim,
Centrífuga ânsia, raiva de ir por os ares até aos astros
Bate pancadas de encontro ao interior do meu crânio,
Põe-me alfinetes vendados por toda a consciência do meu corpo,
Faz-me levantar-me mil vezes e dirigir-me para Abstracto,
Para inencontrável, Ali sem restrições nenhumas,
A Meta invisível todos os pontos onde eu não estou, e ao mesmo tempo
(...)
Ah, não estar parado nem a andar,
Não estar deitado nem de pé,
Nem acordado nem a dormir,
Nem aqui nem noutro ponto qualquer,
Resolver a equação desta inquietação prolixa,
Saber onde estar para poder estar em toda a parte,
Saber onde deitar-me para estar passeando por todas as ruas,
Saber onde (...)

Ho-ho-ho-ho-ho-ho-ho
HO-HO-HO-HO-HO-HO-HO
HO-HO-HO-HO-HO-HO-HO
HO-HO-HO-HO-HO-HO-HO

Cavalgada alada de mim por cima de todas as coisas,
Cavalgada estalada de mim por baixo de todas as coisas,
Cavalgada alada e estalada de mim por causa de todas as coisas...
Hup-la por cima das árvores, hup-la por baixo dos tanques,
Hup-la contra as paredes, hup-la raspando nos troncos,
Hup-la no ar, hup-la no vento, hup-la, hup-la nas praias,
Numa velocidade crescente, insistente, violenta,
Hup-la hup-la hup-la hup-la......

Cavalgada panteísta de mim por dentro de todas as coisas,
Cavalgada energética por dentro de todas as energias,
Cavalgada de mim por dentro do carvão que se queima, da lâmpada que arde
De todos os consumos de energia
Cavalgada de mil amperes, [...]
Cavalgada explosiva, explodida como uma bomba que rebenta
Cavalgada rebentando para todos os lados ao mesmo tempo,
Cavalgada por cima do espaço, salto por cima do tempo,
Galga, cavalo electrão — ião —, sistema solar resumido
Por dentro da acção dos êmbolos, por fora do giro dos volantes.
Dentro dos êmbolos, tornado velocidade abstracta e louca,
Ajo a ferro e velocidade, vai-vem, loucura, raiva contida,
Atado ao rasto de todos os volantes giro assombrosas horas,
E todo o universo range, estraleja e estropia-se em mim.

Ho-ho-ho-ho-ho...
Cada vez mais depressa, cada vez mais com o espírito adiante do corpo
Adiante da própria ideia veloz do corpo projectado,
Com espírito atrás adiante do corpo, sombra, chispa,
He-la-ho-ho... Helahoho.
Toda a energia é a mesma e toda a natureza é o mesmo...
A seiva da seiva das árvores é a mesma energia que mexe
As rodas da locomotiva, as rodas do eléctrico, os volantes dos Diesel,
E um carro puxado a mulas ou a gasolina é puxado pela mesma coisa.
Raiva panteísta de sentir em mim formidandamente,
Com todos os meus sentidos em ebulição, com todos os meus poros em fumo,
Que tudo é uma só velocidade, uma só energia, uma só divina linha
De si para si, parada a ciciar violências de velocidade louca...
Ho-ho-ho-ho-ho-ho-ho
HO-HO-HO-HO-HO-HO-HO
HO-HO-HO-HO-HO-HO-HO
HO-HO-HO-HO-HO-HO-HO

Ave, salve, viva a unidade veloz de tudo!
Ave. salve, viva a igualdade de tudo em seta!
Ave, salve, viva a grande máquina universo!
Ave, que sois o mesmo, árvores, máquinas, leis,
Ave, que sois o mesmo, vermes, êmbolos, ideias abstractas,
A mesma seiva vos enche, a mesma seiva vos torna,
A mesma coisa sois, e o resto é por fora e falso,
O resto, o estático resto que fica nos olhos que param,
Mas não nos meus nervos motor de explosão a óleos pesados ou leves,
Não nos meus nervos todas as máquinas, todos os sistemas de engrenagem,
Nos meus nervos locomotiva, carro-eléctrico, automóvel, debulhadora a vapor,
Nos meus nervos máquina marítima, Diesel, semi-Diesel, Campbell,
Nos meus nervos instalação absoluta a vapor, a gás, a óleo e a electricidade,
Máquina universal movida por correias de todos os momentos!
Comboio parte-te de encontro ao resguardo da linha de desvio!
Vapor navega direito ao cais e racha-te contra ele!
Automóvel guiado pela loucura de todo o universo precipita-te
Por todos os precipícios abaixo
E choca-te, trz!, esfrangalha-te no fundo do meu coração!

À moi, todos os objectos projécteis!
À moi, todos os objectos direcções!
À moi, todos os objectos invisíveis de velozes!
Batam-me, trespassem-me, ultrapassem-me!
Sou eu que me bato, que me trespasso, que me ultrapasso!
A raiva de todos os ímpetos fecha em círculo-mim!

Hela-hoho comboio, automóvel, aeroplano minhas ânsias,
Velocidade entra por todas as ideias dentro,
Choca de encontro a todos os sonhos e parte-os,
Chamusca todos os ideais humanitários e úteis,
Atropela todos os sentimentos normais, decentes, concordantes,
Colhe no giro do teu volante vertiginoso e pesado
Os corpos de todas as filosofias, os trapos de todos os poemas,
Esfrangalha-os e fica só tu, volante abstracto nos ares,
Senhor supremo da hora europeia metálico e cio.

Vamos, que a cavalgada não tenha fim nem em Deus!
Vamos que mesmo eu fique atrás da cavalgada, que eu fique
Arrastado à cauda do cavalo, torcido, rasgado, perdido
Em queda, meu corpo e minha alma atrás da minha ânsia abstracta
Da minha ânsia vertiginosa de ultrapassar o universo,
De deixar Deus atrás como um marco miliário nulo,
De deixar o m(...)

Dói-me a imaginação não sei como, mas é ela que dói.
Declina dentro de mim o sol no alto do céu.
Começa a tender a entardecer no azul e nos meus nervos.
Vamos ó cavalgada, quem mais me consegues tornar?
Eu que, veloz, voraz, comilão da energia abstracta,
Queria comer, beber, esfolar e arranhar o mundo,
Eu, que só me contentaria com calcar o universo aos pés,
Calcar, calcar, calcar até não sentir...
Eu, sinto que ficou fora do que imaginei tudo o que quis,
Que embora eu quisesse tudo, tudo me faltou,
(...)

Cavalgada desmantelada por cima de todos os cimos,
Cavalgada desarticulada por baixo de todos os poços,
Cavalgada voo, cavalgada seta, cavalgada pensamento-relâmpago,
Cavalgada eu, cavalgada eu, cavalgada o universo-eu.
Helahoho-o-o-o-o-o-o-o...

Meu ser elástico, mola, agulha, trepidação..."

22-5-1916
«Passagem das Horas». Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993.  - 26b.

7 de março de 2016

Módulo - Motivação


 

Testemunho - Participantes


A verdadeira motivação consiste em acreditarmos em nós próprios. A força interior que designamos por motivação encontramo-la dentro de nós, no esforço por nos auto conhecermos e fora de nós quando a reação dos outros nos entusiasma, nos enche de energia e vontade para produzir e inovar.
Não nego que a motivação possa assentar em factores negativos como a inveja, o ciúme, o despeito. Contudo, o resultado consegue-se, quase sempre, à custa de danos irreparáveis na relação com o outro.

É preciso motivar para o bem, prestígio, a autoafirmação e o despertar de talentos adormecidos. E devemos com palavras e gestos motivar os desmotivados. É a força de uma palavra amiga e de um sorriso, capaz de diminuir a dor e incutir ânimo para enfrentar a vida com um novo fôlego e, quantas vezes, para mudar de rumo.

Texto escrito - Arlindo Andrade

Módulo - Auto e Hetero-conhecimento e Gestão de Expectativas


   

Testemunho - Participantes



Hoje decidi relembrar-me de como começou esta aventura que está a ser a segunda edição do Saber Ser Saber Fazer. 

Era Novembro, já fazia frio e alguns de nós (Formandos e Formadores) ainda estávamos a tentar acertar com os caminhos para chegar Associação. 

Para começar o nosso percurso de formação em sala, fomos acolhidos gentilmente pela Maria Albertina Nogueira, nossa primeira Formadora.Estávamos naturalmente intimidados e encolhidos nas nossas “conchas”. Ainda não conhecíamos nem colegas, nem Formadores. Era um ambiente novo e, como tal, ainda sob investigação meticulosa. Sei que só devo falar por mim, mas verifiquei, passadas algumas semanas, que os meus colegas relatavam sensações semelhantes. Ou pelo menos, assim o entendi.Era, então, tempo de começar a quebrar o gelo e promover empatia. O tema era adequado e a abordagem da Formadora foi incisiva, com dinâmicas de grupo para iniciar e fechar cada sessão. Dançou-se, cantou-se e sorriu-se bastante. Olhou-se com olhos de ver e ouviu-se com ouvidos de ouvir. E depois, foi tempo de começar a trabalhar. 

Das sessões deste módulo, guardo vários modelos de análise da personalidade. Interessaram-me particularmente as questões da introversão-extroversão, estilos de comunicação, com enfâse no desenvolvimento da assertividade, em detrimento da manipulação e agressividade. E, finalmente, achei interessante a questão das bases motivacionais dominantes de cada pessoa. Fiquei a perceber melhor, o que me motiva e porque se torna, por vezes, difícil lidar com pessoas que têm bases motivacionais dominantes diferentes da minha. Aqui, vou entrar em mais pormenor, porque me parece útil. Falou-se das 3 bases motivacionais dos seres humanos. A saber: Poder, Êxito e Afiliação.

Não serei imparcial de todo no que escrevo de seguida, mas o que entendo disto é que quem se move por “Poder” - leia-se dinheiro, estatuto, autoridade e imagem - age de forma muito distinta de quem se move por “Êxito” - leia-se muito trabalho grande satisfação com resultados e progressos académicos e/ou profissionais - ou por “Afiliação” - leia-se vontade de pertencer aos grupos em que se age e de trabalhar para o bem-estar comum. A grande sabedoria parece-me estar em gerir a diversidade para que pessoas com bases motivacionais diferentes funcionem bem, quando trabalham em equipa. 

Por fim, e no que respeitou à temática de “Gestão de Expectativas”, dei especial atenção à questão do Locus de Controlo Interno ou Externo. Analisando esta variável da personalidade, é possível perceber melhor como cada um gere as suas expectativas de vida e também como interage com os outros à sua volta. Olhando por este ângulo, tornou-se mais claro para mim que começar, incentivar ou deixar-se voltar a cair em estratégias de vitimização, pode fazer mais mal do que bem. Andar a por as culpas nos outros – leia-se o colega, o chefe, o governo, o cão do vizinho, enfim, qualquer coisa que mexa – é de quem ainda tem o locus de controlo externo e, acima de tudo, muita vontade de se perder nesse marasmo. Admito que, também eu, ainda vou caindo nessa armadilha, mas levanto-me logo a seguir e saio a correr!! E o importante é que se vá caindo cada vez menos e que a seguir se recupere em grande estilo ☺.

E foi tudo isto que trouxe comigo deste módulo.
Obrigada aos colegas e à Formadora.
Agradeço também o “tempo de antena” a quem tiver lido este meu resumo narrado destes dias de formação.

Texto escrito - Matilde

Referências bibliográficas:

Morin, Edgar - Os sete Saberes Necessários à Educação do Futuro 3a. ed. - São Paulo:
Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2001;
Gardner, H. - Frames of mind. New York: Basic Books Inc., 1985;
Berne, Eric - Games People Play – The Basic Hand Book of Transactional Analysis. New York: Ballantine Books , 1964;
Rotter, J. B. - Generalized expectancies for internal versus external control of reinforcement, Psychological Monographs: General and Applied, 1966